Eixos Temáticos

 

1. A PRODUÇÃO SOCIAL DO BRASIL E A CONSTRUÇÃO DE SUAS GEOGRAFIAS.

Ementa – A produção do espaço, condicionada pela aceleração contemporânea e pela fragmentação das relações que marcam esta fase globalizada do capitalismo, admite múltiplas leituras, resultantes das diversas possibilidades de apreensão desse processo. Coloca-se, como ponto de partida, a necessária análise do modo de produzir acadêmico. A realidade brasileira contemporânea propõe desafios ao pensamento que exigem a crítica e a superação de um empreendedorismo acadêmico enraizado na universidade. Este processo passa pela valorização do conhecimento geográfico produzido ao apontar perspectivas teórico-metodológicas que permitam a construção de um conhecimento concreto sobre o presente. Assim, buscamos refletir sobre teoria e método; ciência geográfica; epistemologia da geografia; história do pensamento geográfico; categorias filosóficas aplicadas à geografia; história dos saberes geográficos; referenciais teóricos e metodológicos que orientam práticas políticas.

 

2. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA: QUE CIDADE QUEREMOS?

Ementa – O atual ciclo de expansão do capitalismo com sua progressiva financeirização da economia global, vem desdobrando novas estratégias do uso, valorização e gestão do urbano, amalgamando este aos interesses do mercado e com isso transformando sua estrutura em diversas cidades do mundo. No Brasil, a questão urbana – produto de um passado colonial ainda decorrente - vem reproduzindo as principais contradições estruturais da nossa sociedade, se inscrevendo nos espaços das cidades, marcadas pela desumanização, segregação e sujeição social. Do cotidiano da cidade praticada, emanam forças que tensionam a produção do espaço urbano, por meio da luta pelo direito à cidade e a democratização do espaço urbano, tais como questões de mobilidade, habitação e genocídio da juventude negra. Frente a este complexo processo, é necessário revisar possibilidades, limitações e o sentido de nossas leituras e metodologias de compreensão da cidade e do urbano. Como a nossa práxis de geógrafos permite que avancemos nessas lutas? Que cidade queremos?

 

3. GEOGRAFIA, CRISE AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.

Ementa – O desenvolvimento econômico capitalista é o motor da crise ambiental em todas as escalas. A história da produção capitalista é a história do não reconhecimento de limites físicos, químicos e orgânicos do planeta. Isto se capilariza por todos os espaços na forma da destruição da natureza, entendida como materialidade e cultura dos povos. Múltiplas são as escalas da crise ambiental. Problemas estruturais como o desmatamento de vastas extensões de vegetação nativa, extinções de espécies, o tratamento de resíduos sólidos nas cidades, a poluição dos corpos d'água e as ocupações em encostas, entre outros, provocam a degradação sistemática da vida e aprofundam a cisão entre natureza e cultura. Não se trata apenas da ruptura de barreiras físicas, possibilitadas pelas inovações tecnológicas, mas de rupturas em práticas historicamente vinculadas às culturas dos povos. Cabe questionar como a geografia pode contribuir para a transformação do atual modelo de desenvolvimento econômico. Qual é a importância de se tratar de forma critica sociedade e natureza? Qual(is) é (são) a(s) natureza(s) estudada(s) na geografia?

 

4. AÇÃO POLÍTICA, LUTAS SOCIAIS E REPRESENTAÇÃO: POR UM OUTRO PROJETO DE SOCIEDADE.

Ementa – A dominação que legitima a sociedade capitalista é conhecida: aquela do homem sobre a natureza, que se converte na dominação do homem sobre o homem. Se a ação política é a ação transformadora que intervêm no curso da história para mudar o seu rumo e sentido, desvendar as motivações ocultas atrás das ações de lutas sociais difusas e tornadas invisíveis é urgente para a construção de um outro projeto societário que rompa com a leitura hegemônica, incapaz de incorporar os sentidos populares da ação. São projetos elaborados com os códigos da competitividade, do consumismo e do individualismo. Pelo contrário, outros projetos vêm sendo construídos pela resistência dos oprimidos a partir de seus valores culturais, estratégias de vida e experiência popular. O pensamento operacional e a ação instrumental de projetos fracassados encontram oposição nas práticas sociais que são construídas nos lugares.

 

5. AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DA EDUCAÇÃO: EDUCAR PARA QUE BRASIL?

Ementa – As atuais políticas educacionais desdobram-se no sentido de formar o novo trabalhador flexível, impondo um saber fazer articulado às mudanças tecnológicas do processo de globalização e às transformações do mundo do trabalho. No contexto brasileiro, as transformações apontam para a formação de um Sistema Nacional de Educação em sintonia com o atual Plano Nacional de Educação (PNE), onde os mecanismos nacionais de avaliação e de reforma curricular assumem centralidade e destacam-se pela valorização de competências e habilidades. Nesse sentido, como a Geografia brasileira irá se posicionar frente a pautas diretas que surgem nesse horizonte, como a Base Nacional Comum e a reforma do Ensino Médio? E qual professor(a) estas políticas projetam?

 

6. QUESTÃO AGRÁRIA: CONFLITOS, TENSÕES E PROJETOS.

Ementa – As disputas teóricas e metodológicas em torno à questão agrária continuam atuais e merecem investimento reflexivo. Questões relacionadas à luta pela terra e pelo território, que envolvem múltiplos sujeitos sociais tais como os camponeses, os indígenas e os quilombolas compõem os debates acadêmicos e políticos sobre um outro projeto para o campo brasileiro, do qual decorrem importantes pesquisas científicas. Em confronto com esse projeto histórico, o agronegócio se consolida tanto em sua vertente científica e tecnológica, com significativos avanços na pesquisa e desenvolvimento, quanto na dimensão política, na medida em que seus representantes se confundem com o próprio Estado.

 

7. DISPUTAS CARTOGRÁFICAS NAS DIMENSÕES DO PODER.

Ementa – A cartografia continua sendo um importante instrumento de poder na delimitação do espaço e em sua representação, tendo como agentes especialmente as grandes empresas e o Estado. É fundamental questionar a natureza da análise espacial e do mapa no presente momento histórico, a partir do processo de valorização das tecnologias da informação. Neste sentido, a leitura da cartografia como técnica, linguagem e/ou ciência manifesta uma das faces desta disputa, que retira do debate o uso do mapa em relações de poder. Aliada a essa vertente, emergem cartografias voltadas para lutas e conflitos sociais e para a ação social. São cartografias orientadas para transformações, para as quais as escalas não são anódinas, mas mediações fundamentais a explicitar. São formas alternativas de representação das situações sociais que autorizam mapear os lugares, mas principalmente os contextos e as práticas dentro de suas temporalidades, buscando os sentidos da ação. Essa cartografia é um avanço para as lutas sociais, mas é interrogada na medida em que seus resultados, localizando os sujeitos sociais, podem ser apropriados pelo poder hegemônico.

 

8. ESTADO, CAPITAL E PODER: GEOGRAFIA POLÍTICA DO BRASIL.

Ementa – Configura-se uma nova geopolítica mundial nesse início de século, por isso a afirmação do “retorno da geopolítica”. Ela não é movida apenas por conflitos territoriais entre Estados, essa nova geopolítica é enredada pela reorganização do capitalismo em escala mundial. Todos os conflitos pela hegemonia mundial implicam em novas arquiteturas políticas e territoriais que, em sua face mais perversa, alimentam crises, conflitos, guerras e deslocamentos em massa, atingindo todas as regiões e lugares. De fato, as lutas e as políticas dos povos não são travadas apenas no plano das idéias, mas especialmente no plano do território e da competição pelo uso de seus recursos, por isso é urgente uma reflexão aprofundada sobre a geopolítica dos Estados e das grandes empresas que estão sob a hegemonia do capital financeiro. Desvendar a natureza geográfica do poder, mais que apresentar suas formas geográficas, é o objetivo da geopolítica para a compreensão das múltiplas formas de dominação.

 

9. PARA TRANSFORMAR O BRASIL: RAÇA E GÊNERO NOS DEBATES GEOGRÁFICOS.

Ementa – Historicamente a produção científica lastreou as opressões por raça e gênero, o que teve forte influência na construção da sociedade e também da geografia brasileira, naturalizando valores hierarquizantes que condicionam corpos e mentes. Apenas nos últimos anos, as discussões relacionadas a gênero, raça e sexualidade vêm sendo incluídas no pensamento geográfico sob uma perspectiva de crítica a essas opressões. Repensar a geografia a partir de perspectivas anti-hierárquicas, pressupõe o diálogo com novos paradigmas para compreender tais relações como elementos constituintes de práticas do espaço geográfico. Dessa forma, como a geografia pode contribuir para, ao compreender, combater a reprodução do racismo, do machismo e da homolesbotransfobia na produção do espaço e da educação?